As cartas aqui reunidas são fruto de inspirações sistematizadas no período do recolhimento social produtivo. A propósito da celebração do centenário de Paulo Freire (2020-2021), elas se pretendem continuadoras das Cartas Pedagógicas, apreciadas pelo mestre, educador do povo, cujas memória e história permanecem vibrando em nós.
Por serem Cartas Pedagógicas, guardam inspirações e conhecimento da realidade. Inspiram outros a escrever as suas, desde onde seus pés pisam. Guardam memórias de um tempo, profundamente marcado por cicatrizes a serem tratadas, antes que a memória as apague e elas retornem mais adiante, com feridas mais profundas e incuráveis. Para muitos de nós, foi um tempo de descobrirmos um outro ângulo das nossas vidas - e tivemos medo. Contudo, enfrentamos o medo, e não naufragamos.
Tal como nas de Paulo Freire, as cartas reunidas neste livro preservam algo quase humanamente sagrado. Isto porque, de modo diferente de quando se escreve um artigo científico, ou mesmo uma conclamação a um momento de esperança e de luta, as cartas dizem, todas e cada uma, o que é essencial como uma mensagem ora mais ampla, ora centrada em uma questão. E elas "dizem" como algo pessoalmente dirigido a um outro alguém, ou - o que é mais frequente - a um alguém-coletivo.